quarta-feira, 14 de março de 2012


O espelho e a perua

Ilustração: Ionit 
A confusão começou
Certa vez, no galinheiro,
Quando as aves encontraram
Um espelho no terreiro.

Uma galinha vaidosa
Logo quis contar vantagem:
- Com licença, galináceas,
Vim conferir minha imagem!

A pata, torcendo o bico,
Comentou com a vizinha:
- Não vale arrancar as penas
Pra parecer mais magrinha!

E qual não foi a surpresa
Das aves estabanadas:
No reflexo do espelho
Só tinha coisas erradas!

Quem era alta e bela
Viu-se feiosa e baixinha.
Quem era gorda e forte
Ficou magrela e fraquinha.

- Credo! - grasnou o marreco.
- Cruzes! - o pinto piou.
- Incrível! - cantou o galo.
E o papagaio berrou.

A galinha carijó
Foi quem depressa falou:
- Este espelho tem feitiço...
Foi a bruxa que o mandou!

- Mentira! - disse a perua,
Balançando as pulseiras.
- Li esse conto de fadas,
Vocês só dizem besteiras!

Estufou-se, bem danada,
Mostrando o papo vermelho.
E com pose de malvada
Fez a pergunta ao espelho:

- Espelho, espelho meu!
Responda se há no mundo
Outra ave mais bonita,
Mais charmosa e elegante,
Mais esperta e fascinante,
Mais incrível e imponente,
Mais formosa do que eu?
Diga logo, espelho meu!!

Os bichos, impressionados,
Ouviram com atenção
A resposta do espelho
A tamanha pretensão:

- Se você quer a verdade,
Vou dizê-la, nua e crua.
E mostrar a realidade
Para uma simples perua.

Você disse que é esperta,
Imponente e charmosa.
Mas parece antipática,
Falando assim, toda prosa.

Desfila o ano inteiro
Como se fosse a tal.
Mas foge do cozinheiro
Quando chega o Natal! 
Poema de Flávia Muniz, ilustrado por Ionit


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