Poesia
infantil: diga sim!
Poemas para crianças podem ser lúdicos,
lindos e ainda deixar os pequenos mais sensíveis à leitura do mundo, como
defende o Prof. Hélder Pinheiro
Foto: Dreamstime
Ao contrário do que
possamos imaginar, metáforas e estruturas heterodoxas não são difíceis para as
crianças
A
poesia é um gênero quase natural para a infância. Ao contrário do que possamos
imaginar, metáforas e estruturas heterodoxas não são difíceis para as crianças.
O que são poemas, afinal, senão brincadeiras com palavras e sentidos? A seguir,
o professor Hélder Pinheiro defende a leitura constante de poesia com os
pequenos, na escola e em casa: "Os professores e a família têm um papel
fundamental: cultivar a leitura e a audição de poesia, se possível, todos os
dias. Por que gostamos de música? Porque a ouvimos cotidianamente".
Especialista em literatura brasileira e, especificamente, poesia, Pinheiro
concedeu uma entrevista exclusiva ao Educar sobre a importância desse gênero
para as crianças.
Hélder Pinheiro é doutor em literatura brasileira pela Universidade de São
Paulo e pós-doutor pela Universidade Federal de Minas Gerais. Ensina literatura
brasileira na Universidade Federal de Campina Grande (PB) e já publicou
diversos livros e artigos sobre poesia. Entre eles, escreveu "Poesia na
Sala de Aula" (Editora Ideia) e organizou "Poemas para crianças:
reflexões, experiências e sugestões" (Editora Livraria Duas Cidades) e a
coletânea "Pássaros e bichos na voz de poetas populares", que é
altamente recomendada pela Fundação Nacional do Livro Infantil.
Prof. Hélder Pinheiro :
Prof. Hélder Pinheiro : São várias questões: acho que a poesia não é
apreciada pelas crianças porque a escola e a família trabalham pouco com poemas
e, quando trabalham, ainda permanece o ranço de usar como pretexto para ensinar
alguma coisa. Recentemente, observei coleções de livros didáticos voltados para
1º ao 5º ano e constatei esse mesmo problema de 15 ou 20 anos atrás. Saindo do
âmbito escolar, a poesia de algum modo sempre está presente na vida das
pessoas, mas ler poesia de um modo mais cotidiano, ainda está longe de acontecer.
São várias questões: acho que a poesia não é
apreciada pelas crianças porque a escola e a família trabalham pouco com poemas
e, quando trabalham, ainda permanece o ranço de usar como pretexto para ensinar
alguma coisa. Recentemente, observei coleções de livros didáticos voltados para
1º ao 5º ano e constatei esse mesmo problema de 15 ou 20 anos atrás. Saindo do
âmbito escolar, a poesia de algum modo sempre está presente na vida das
pessoas, mas ler poesia de um modo mais cotidiano, ainda está longe de acontecer.
Prof. Hélder Pinheiro :
Prof. Hélder Pinheiro : Não sei se há uma sensibilidade específica para
ler poesia, mas com certeza quem lê mais poesia pode desenvolver uma
sensibilidade mais aguçada para alguns aspectos da língua e da vida como um
todo.
Não sei se há uma sensibilidade específica para
ler poesia, mas com certeza quem lê mais poesia pode desenvolver uma
sensibilidade mais aguçada para alguns aspectos da língua e da vida como um
todo.
Prof. Hélder PinheNão sei se há uma sensibilidade específica para
ler poesia, mas com certeza quem lê mais poesia pode desenvolver uma
sensibilidade mais aguçada para alguns aspectos da língua e da vida como um
todo.
Para
a criança, qual é a diferença entre a leitura de poesia e a de prosa?
Prof.
Hélder Pinheiro : Às vezes acho que a criança - estou
pensando na criança pequena, até 8 ou 10 anos - não percebe muita diferença. E
não se deve insistir, desde cedo, em conceitos, em especificidades. Mas, embora
não saiba a diferença, a criança pode experimentar esses gêneros de modo
diferente. Enquanto a prosa, a narrativa, tem um enredo, cativa o leitor ou
ouvinte para o desenrolar de determinados fatos e acontecimentos, o poema é
mais instantâneo. Uma criança que ouça: "A bela bola rola/a bela bola de
Raul", de Cecília, muitas vezes devaneia a partir deste primeiro verso do
poema. Imagina a bola rolando, o colorido das bolas, a brincadeira. Certamente,
o encanto da poesia para criança está, sobretudo, no som. A musicalidade é
fundamental para encantar as crianças - e os adultos também.
Prof. Hélder Pinheiro :
Prof. Hélder Pinheiro : A questão central é a musicalidade. E ela se dá
dos mais diversos modos: assonâncias, aliterações, rimas e repetições de
palavras são alguns dos procedimentos. Mas também há outros aspectos: uma poesia
mais conceitual, com imagens mais abstratas, no geral, tende a não encantar
muito a criança. No entanto, muitas vezes ela adora o som, embora não entenda
nada do sentido. Portanto, tema e forma (ou estrutura) devem sempre vir bem
casados, para que a significação seja sempre mais rica. Também a poesia para
crianças não deve ser muito longa. Há que se ter cuidado também com o
vocabulário: palavras muito rebuscadas muitas vezes tornam qualquer poema
pernóstico. Não acho que deva haver facilitação, mas também nada de querer
ensinar vocabulário a partir de poesia - o que até pode acontecer, mas
naturalmente.
A questão central é a musicalidade. E ela se dá
dos mais diversos modos: assonâncias, aliterações, rimas e repetições de
palavras são alguns dos procedimentos. Mas também há outros aspectos: uma poesia
mais conceitual, com imagens mais abstratas, no geral, tende a não encantar
muito a criança. No entanto, muitas vezes ela adora o som, embora não entenda
nada do sentido. Portanto, tema e forma (ou estrutura) devem sempre vir bem
casados, para que a significação seja sempre mais rica. Também a poesia para
crianças não deve ser muito longa. Há que se ter cuidado também com o
vocabulário: palavras muito rebuscadas muitas vezes tornam qualquer poema
pernóstico. Não acho que deva haver facilitação, mas também nada de querer
ensinar vocabulário a partir de poesia - o que até pode acontecer, mas
naturalmente.
Em princípio, creio que sim. A questão é: como
fazer essa aproximação. Os grandes poetas têm poemas que agradam a leitores de
qualquer idade. Bandeira, Drummond, Cecília, entre outros, são exemplos disso -
diversas antologias para crianças trazem poemas deles. Possivelmente, um poema
como "Tabacaria", de Fernando Pessoa, não irá chamar a atenção de
crianças. Mas poderá ser uma descoberta para adolescentes. Por outro lado, há
poemas mais herméticos que exigem maior desenvolvimento cognitivo, experiências
de vida diferenciada, o que poderá dificultar esta aproximação. Mesmo poemas
não muito fáceis de serem compreendidos, se tiverem uma musicalidade destacada,
poderão agradar. É sempre bom lembrar que mesmo a criança tendo contato desde
cedo com poesia que não lhe foi destinada, o modo de percepção, as razões que
as levam a gostar serão diferenciadas. Certamente crianças acostumadas com a
música da poesia, no momento adequado, saberão beber na fonte de grandes
poetas. E é sempre bom lembrar: boa poesia para criança é boa poesia para
qualquer leitor, inclusive o que se acha o mais crítico, o mais
intelectualizado.
O
senhor poderia citar seus autores e poemas favoritos para crianças?
Prof. Hélder Pinheiro :
: Há alguns
poemas que me acompanham pela vida afora. Sempre trabalho com eles na
disciplina Literatura infantil, aqui na UFCG. Por exemplo, "O colar de
Carolina", "Leilão de jardim" e "O menino azul", de
Cecília Meireles; gosto muito de um poema chamado "O girassol", de
Elias José. Um dos meus preferidos é "A dança dos pica-paus", de
Sidónio Muralha. "O pato", de Vinicius de Moraes. Talvez o mais
clássico, de que todos gostam, seja "A bailarina", de Cecília
Meireles. Todos eles são bastante musicais, retomam brincadeiras infantis e o
mundo animal. Muitos alunos de graduação e professores relatam experiências com
esses e outros poemas, trabalhados de modo lúdico, e os resultados são sempre
muito gratificantes.
http://educarparacrescer.abril.com.br/leitura/poesia-todos-473871.shtml
Fo
Pro
f. Hélder
Pinheiro : Acredito que
sim, mas é difícil aferir de modo muito preciso. Não basta trabalhar a poesia
na infância e abandoná-la na pré-adolescência, na adolescência e na vida afora.
A educação para a sensibilidade poética deverá ser um projeto para a vida
inteira. Se ele começar bem na infância, teremos mais chances de ter um adulto
mais sensível, eu creio. Neste sentido, acho que a escola e a família têm um
papel fundamental: cultivar a leitura ou audição de poesia, se possível, todos
os dias. Por que gostamos tanto de música? Por ouvimos cotidianamente. E mais:
não só um tipo ou um modelo de poema. A diversidade é fundamental para que a
criança crie parâmetros, vá descobrindo que tipo de texto mais lhe agrada. A
vida é muito complexa, não existem garantias de que a poesia determine uma
sensibilidade estética. Mas mesmo sem certezas muito absolutas, acredito muito
na contribuição da poesia para nos tornar mais alegres, mais sensíveis, mais
humanos, enfim.
Pro
f. Hélder
Pinheiro : Acredito que
sim, mas é difícil aferir de modo muito preciso. Não basta trabalhar a poesia
na infância e abandoná-la na pré-adolescência, na adolescência e na vida afora.
A educação para a sensibilidade poética deverá ser um projeto para a vida
inteira. Se ele começar bem na infância, teremos mais chances de ter um adulto
mais sensível, eu creio. Neste sentido, acho que a escola e a família têm um
papel fundamental: cultivar a leitura ou audição de poesia, se possível, todos
os dias. Por que gostamos tanto de música? Por ouvimos cotidianamente. E mais:
não só um tipo ou um modelo de poema. A diversidade é fundamental para que a
criança crie parâmetros, vá descobrindo que tipo de texto mais lhe agrada. A
vida é muito complexa, não existem garantias de que a poesia determine uma
sensibilidade estética. Mas mesmo sem certezas muito absolutas, acredito muito
na contribuição da poesia para nos tornar mais alegres, mais sensíveis, mais
humanos, enfim.